Capítulo 11 – As Vozes do Vento Adormecido
- O Batom Viajante

- 20 de nov.
- 3 min de leitura

O primeiro sinal veio como um arrepio inesperado.
Não era frio. Nem medo. Era… atenção.
Como se algo, em algum lugar entre as árvores, tivesse percebido Elena antes que ela percebesse a si mesma. Como se um par de olhos invisíveis estivesse acompanhando cada passo — não para ameaçá-la, mas para ter certeza de que ela realmente seguiria adiante.
O Bosque das Brumas havia ficado para trás. Mas a sensação de ser observada caminhava com ela.
O ar, que antes era denso e pesado, agora parecia um corpo vivo, inquieto. As folhas não se moviam, mas o vento — aquele vento que não precisava de folhas para existir — corria por dentro do bosque como se procurasse algo. Ou alguém.
Elena apertou o manto ao redor do corpo. A vibração no peito, deixada pela luz que absorvera de Morgana, ainda pulsava: devagar, firme, constante. Como um relógio sem ponteiros, marcando um tempo que não era deste mundo.
— Tem alguém aí? — ela arriscou.
A pergunta caiu no ar como uma pedra num lago silencioso. As ondas da pergunta se espalharam… E então vieram as respostas.
Não como palavras. Não como sopros. Mas como pequenos estalos no ar — tic, tic, tic — como se o vento tentasse formar uma linguagem que sua mente ainda não compreendia.
Elena fechou os olhos para ouvir melhor. E o vento respondeu.
Primeiro, com um giro leve em torno de seus tornozelos, levantando poeira branca que não deveria existir ali. Depois, com um deslizar lento sobre suas mãos, como dedos curiosos que queriam descobrir quem ela era. Por fim, com um sussurro tão sutil que parecia nascer dentro da própria mente:
— …le…na…
Elena abriu os olhos num sobressalto.
O vento conhece meu nome.
A brisa voltou a correr, desta vez mais forte, carregando consigo uma série de sons que não conseguiam se transformar em palavras:
— shh’raan… tahl… khonn…
Ela sentia que não eram ruídos. Eram códigos. Sílabas antigas, quebradas como cerâmicas de um vaso esquecido.
Algo estava tentando falar com ela.
Ela virou o rosto para o Norte sem saber por quê. Mas o corpo sabia. O peito sabia. O ritmo interno que pulsava em conexão com o que Morgana havia despertado sabia.
A cada passo que dava naquela direção, o vento mudava. Ele vinha em rajadas curtas, às vezes suaves, às vezes impacientes. Como se testasse sua coragem. Como se oferecesse pistas.
tic-tic-tic
O som agora parecia vir de dentro dela. Ou de trás? Ou de todas as direções ao mesmo tempo?
— O que você quer me mostrar? — Elena perguntou, quase em um sussurro.
Uma corrente de ar atravessou seu caminho, como se desenhasse uma linha diante dos seus pés. Ela entendeu: queria que ela seguisse.
Elena respirou fundo. Um frio elétrico percorreu seu corpo. Mas não havia medo.Havia… chamado.
Cada passo em direção ao Norte tornava a sensação mais forte.
As árvores começaram a inclinar seus galhos para o mesmo lado, como se soubessem exatamente para onde ela deveria ir. O ar ficava mais claro, mais leve — e ao mesmo tempo mais carregado de significado.
O vento, que até ali falava em códigos, começou a repetir uma sequência:
— ka… nor… kah… nor…
Repetia. Rebatia. Ressoava.
Até que Elena entendeu uma única coisa, a que realmente importava:
Não era uma palavra.Era uma direção.
O Norte estava chamando.
A vibração em seu peito respondeu com uma chama sutil. Um calor que não combinava com a brisa fria.
Algo dentro dela despertava. Algo que talvez tivesse dormido por eras.
Quando o vento soprou novamente, foi diferente.
Não havia mais código. Não havia mais estalo.
Havia intenção.
E a intenção dizia claramente:
— Venha.
Elena deu mais um passo.
A sensação de ser observada não incomodava mais. Agora era como ser acompanhada. Guiada.
Protegida.
O vento adormecido estava acordando.
E ela — mesmo sem compreender como — sabia que aquilo era apenas o começo. O prelúdio de uma força que não tinha corpo, mas que regia todo movimento em FAR. Uma força que não esperaria muito tempo.
O Norte estava vivo. E agora, vivo, chamava seu nome.




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