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Capítulo 12 – O Espelho do Amanhã

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A trilha para o Norte parecia mais estreita a cada passo, como se o próprio bosque quisesse protegê-la de algo — ou prepará-la. A luz entre as árvores mudava de cor o tempo todo: ora azulada, ora prateada, ora tão clara que parecia vir de dentro dela, e não do céu.


O vento já não falava como antes. Agora ele apenas apontava.


Como uma mão invisível empurrando o ar na direção certa.


Depois de horas caminhando, Elena avistou uma torre.


Alta.

Solitária.


Feita de pedra tão antiga que nem os musgos ousavam cobri-la. A estrutura parecia ter sido esculpida pelo próprio tempo — ou por algo que vive além dele.


Não havia porta.Apenas uma fenda estreita, iluminada por uma luz leitosa.


O vento soprou atrás dela, firme, empurrando-a um passo adiante.


— É aqui… — Elena murmurou.


Ao entrar, o ar mudou. Era como respirar água. Ou memória.


A torre não tinha escadas, móveis ou janelas. Era enorme por dentro, muito maior do que parecia por fora, como se o espaço se desdobrasse em camadas invisíveis.


E em cada parede… Espelhos.


De todos os tamanhos. De todas as formas. Alguns brilhavam. Outros tremeluziram como se fossem feitos de sombra líquida.


Elena aproximou-se do primeiro.


O reflexo não era o seu.


Era ela — mas não ela.


Era a Elena que teria se tornado se tivesse escolhido ficar no mundo comum, ignorando a carta do Corujal. Com os olhos cansados. O corpo rígido. A chama interna apagada.


Elena recuou com um sobressalto.


O próximo espelho mostrou outra versão — Elena brilhante, radiante, com um sorriso largo como quem dança com a própria sorte. Aquele futuro parecia tão tentador quanto perigoso. Era uma Elena que conseguia tudo o que queria… mas carregava uma ansiedade funda, como se sempre temesse perder o brilho que conquistou.


Outro espelho. Outra Elena. Outra possibilidade.


Cada reflexo mostrava uma versão diferente de si mesma: uma Elena que escolheu segurança, uma que escolheu liberdade, uma que fugiu do que sentia, uma que aceitou tudo sem pensar, uma que se tornou tão sábia que parecia antiga demais para seu próprio corpo.


E então… o espelho maior, no centro da torre.


Esse não refletia nada. Era negro. Vazio.


Elena se aproximou devagar. O vento, que até então a acompanhava, cessou como se respeitasse a gravidade do momento.


Quando tocou a superfície gelada, o espelho despertou.


A escuridão recuou como cortinas sendo abertas.


E o reflexo surgiu.


Mas não era um reflexo.Era uma possibilidade viva. Elena viu uma versão de si que jamais teria imaginado:


Os olhos carregavam a luz exata do cerne. O corpo emanava a serenidade de quem sabe quem é. A postura dizia: não fujo mais de mim.


Mas havia algo mais poderoso ali. Algo que a fez prender a respiração.


A Elena daquele espelho estava…no meio de FAR. Como se tivesse se tornado parte dele. Como se o Reino a reconhecesse não como visitante, mas como destino.


Elena sentiu o coração vibrar — não o de carne, mas o outro, aquele que Morgana havia despertado.


— Quem é você? — ela sussurrou.


A figura do espelho não respondeu com palavras. Mas ao levantar a mão, algo brilhou na palma: uma pequena chama azulada.


A mesma que pulsava dentro do peito de Elena naquele momento.


A mensagem era clara, mesmo sem voz:


“Amanhã não é um lugar. É um reflexo daquilo que você escolhe vibrar agora.”


Elena respirou fundo. O vento voltou devagarinho, circulando seu corpo como se reconhecesse a decisão que nascia dentro dela.


Sem perceber, Elena levou a mão ao próprio coração. E sentiu a mesma chama ali.


Quando olhou novamente para o espelho, a imagem havia desaparecido. No lugar, surgiram palavras escritas em luz:


O futuro só existe quando você pisa nele. Escolha com intenção.


A torre tremeu — não como ameaça, mas como despertar. Elena compreendeu: não havia “destino certo” esperando por ela. Havia apenas possibilidades, torres, portais e escolhas.


E o Norte…o Norte a aguardava.


O vento soprou mais forte, abrindo a fenda de saída como uma cortina que se rende à vontade do viajante.


Elena deixou a torre sabendo algo novo:


Não existe amanhã sem que ela decida quem deseja ser hoje.


E, no fundo daquele vento inquieto, ela sentiu novamente:


Um chamado. Constante. Paciente. Inevitável.


O chamado do Norte.


 
 
 

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