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Capítulo 17 – O Rastro da Luz que Volta

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Quando o ego se dissolve, o mundo enfim se revela.


O vento a carregava suavemente para fora dos escombros da torre, como se temesse que Elena machucasse os pés no chão recém-quebrado.

Cada movimento era um afago — um cuidado que parecia vir não apenas da brisa, mas do próprio Reino que pulsava ao redor.


Era um toque gentil, como de alguém que percebeu que ela saiu de um rito profundo — e ainda estava frágil.

E, de fato, estava.

Era uma fragilidade diferente, porém: não a que pesa, mas a que abre.


O ar estava diferente.

Não apenas mais leve.

Mais… verdadeiro.


Era como se a queda do ego tivesse rearranjado a atmosfera.

Como se o mundo tivesse esperado exatamente esse momento para se mostrar inteiro.


A paisagem ao redor, antes feita de gelo sem cor, agora parecia pulsar com tonalidades que ela não havia notado.


O azul das montanhas tinha camadas.

Camadas que iam do azul profundo ao azul quase branco — como se as encostas respirassem em gradações.


A neve refletia pequenas cintilações douradas, não do sol, mas de uma fonte interna de luz que só ela conseguia ver agora.


E o próprio céu parecia respirar em ondas.

Ondas que se expandiam e recolhiam, como se o céu tivesse um coração.


Elena sentiu o peito vibrar.

Era a mesma vibração que sentira no encontro com Morgana e, depois, com Northwind — mas agora ela não vinha de fora.


Vinha dela.


Era como se a queda das ilusões tivesse aberto espaço para que sua verdadeira frequência pudesse ser ouvida.


Um brilho tênue escapou de suas mãos, como poeira de luz dissolvida.

Elena arregalou os olhos.


— Eu… estou radiante?


O vento respondeu com um giro suave, brincalhão, como quem diz:

Até que enfim, você percebeu.


E então ela entendeu.


Não era o vento que mudara.

Era ela.


O ego tinha desmoronado na torre, e o que restou — suave e luminoso — começou a se expandir.

A luz dela encontrava a luz do Reino.

E o Reino respondia.


🜁 A Teia se Revela


Quando deu um passo, uma linha de luz surgiu sob a neve, como se o chão tivesse acordado com o toque do seu pé.


Uma luz fina, delicada, quase tímida — mas viva.


Outra linha apareceu quando ela inspirou profundamente.

A respiração era agora um gesto mágico.

Cada inspiração ativava uma parte da teia.


E outra quando pensou no próximo passo.


Elena parou, perplexa.

O mundo reagia às suas emoções.

Reagia ao que ela sentia.

Reagia ao que ela vibrava.


— FAR… está vivo.


A frase escapou baixa, mas assim que dita, algo no horizonte respondeu.


Um brilho subiu pelas montanhas, desenhando um arco luminoso que parecia querer guiá-la — como se dissesse: Sim. E estamos felizes por você finalmente ver.


Ela deu outro passo.


A luz sob seus pés se expandiu, formando padrões delicados que se conectavam como fios de teia.

Fios tão finos quanto cabelos.

Tão brilhantes quanto ouro frio.


Elena se ajoelhou na neve e tocou uma das linhas com a ponta dos dedos.


A teia reagiu — vibrando como cordas de harpa.


E então…


Imagens surgiram.


Não à frente.

Não atrás.

Mas no espaço entre o corpo e o ar — como se o mundo tivesse aberto uma janela invisível

para revelar tudo o que estava conectado.


Fragmentos de momentos vividos em FAR:


A névoa abrindo caminho no Bosque das Brumas — a primeira verdade.

O brilho azul no encontro com Northwind — a coragem.

O espelho da torre mostrando espaço puro — o vazio fértil.

A torre caindo e levando embora tudo o que ela não era — o ego finalmente libertado.

E, antes de tudo, o primeiro passo no Portal do Bosque — o início do chamado.


Era como se o Reino estivesse costurando sua jornada diante dela, mostrando cada fio que antes parecia desconexo.

Como se dissesse:

Você achou que estava perdida. Mas nós estávamos tecendo o caminho inteiro.


Elena levou a mão ao peito e sentiu o cerne pulsar.

Um pulsar firme, quente, cheio de presença.


— Está tudo… ligado.


A teia vibrou em resposta, como se dissesse sim, como se celebrasse cada peça que enfim encontrava seu lugar.


🜂 As Chaves se Alinham


O Grimório, que até então estava preso ao cinto, vibrou.


Uma vibração que parecia querer chamar sua atenção — como uma criança puxando a manga da mãe.


Elena o pegou.

A capa brilhou.

As bordas douradas acenderam.

E, pela primeira vez desde que recebera o artefato…


o Grimório abriu sozinho.


As páginas se moveram com o vento — não de forma caótica, mas com intenção — até se deterem em uma página completamente em branco.


Uma página que parecia esperar por ela.

Por sua história.

Por sua memória.


De repente, símbolos começaram a surgir.

Linhas.Curvas.

Pontos conectados.


Era um mapa.


Mas não um mapa geográfico.

Não mostrava estradas, montanhas ou vilas.


Era o mapa da jornada.


Cada ponto brilhava com a cor da emoção vivida:

🌌 o azul profundo da coragem com Northwind

🌼 o dourado suave das memórias despertas por Aurora

🌙 o brilho onírico deixado por Sandy

❄️ a luz risonha de Jack

🌫️ o prateado ancestral de Morgana

🖤✨ e o preto dissolvido transformado em luz, vindo da Torre dos Sonhos Desfeitos


Cada encontro era um ponto.

E cada ponto, uma chave.


Elena sentiu o corpo arrepiar inteiro.


— As chaves… eram experiências.


Não eram objetos.

Nunca foram.

E ela finalmente entendia que não precisava encontrar nada fora dela.


A compreensão caiu dentro dela como neve silenciosa.

Como se sempre estivesse ali — só esperando que ela abrisse espaço para ver.


As chaves nunca foram objetos.

Foram transformações.

Lições.

Rompimentos.

Reencontros consigo mesma.


A teia luminosa sob seus pés se expandiu até tocar o Grimório aberto.

As linhas se conectaram ao mapa, e um brilho forte iluminou a página toda.


Quando a luz cessou, Elena viu:


O mapa agora estava completo.


E no centro dele, onde todas as linhas se encontravam, havia um símbolo que ela nunca tinha visto — mas que reconheceu imediatamente.


Um círculo aberto por um lado.

Uma espiral no meio.

E três pontos alinhados acima.


Ela levou a mão ao peito.

O cerne pulsou três vezes.


— Este é… meu caminho.


Era como se algo dentro dela tivesse finalmente pronunciado sua verdade — mesmo sem palavras.


O vento soprou mais uma vez, desta vez quente como um sopro humano.

Quente como acolhimento.

Como celebração.


E pela primeira vez desde que chegou às Montanhas da Aurora, Elena sentiu que o Reino não estava apenas guiando sua jornada.


Estava celebrando.


Celebrando seu despertar.

Celebrando sua lembrança.

Celebrando seu retorno a si mesma.


Ela fechou o Grimório devagar.

A teia sob seus pés começou a retraçar o caminho luminoso que se estendia em direção ao horizonte — como se abrisse uma estrada que só ela poderia caminhar.


O rastro de luz voltava para ela — e ela, finalmente, sabia para onde ir.


Não porque o caminho estivesse claro.

Mas porque ela estava clara.


O mundo respondeu.


E ela caminhou.




 
 
 

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